O psicólogo André Barbosa explica que a obsessão por política pode afetar o indivíduo nos aspectos afetivo, profissional e pessoal. Veja quais as consequências deste comportamento!
A menos de um mês da eleição que vai escolher o presidente do Brasil e outros cargos, os temas políticos parecem estar em toda parte e, dependendo da forma como a pessoa encara o debate entre as partes envolvidas, a polarização política pode afetar o comportamento humano nas várias esferas – pessoais, emocionais e profissionais. De notícias na televisão a postagens nas redes sociais, as pessoas estão cercadas por campanhas fervorosas, discussões acaloradas e, às vezes, até atitudes violentas por conta da paixão política. O psicólogo André Barbosa, especialista em saúde mental, afirma que o fanatismo pode sim afetar o equilíbrio mental, mas pondera que há tratamento.
Em 2017, um relatório chamado “Estresse na América”, publicado pela APA (Associação Americana de Psicologia), revelou que as pesquisas eleitorais dos últimos anos levaram os eleitores a um alto nível de estresse. No Brasil, em 2020, uma pesquisa feita pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) apontou que 80% da população brasileira ficou ansiosa por causa da política.
André Barbosa afirma que no DSM (Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) não existe nenhuma doença rotulada como paixão política, mas que o fanatismo pode ser característica obsessiva e compulsiva em relação a uma ideia ou mesmo levar a seguir uma pessoa e acompanhar os passos dela descontroladamente. O momento de olhar com cuidado para a saúde mental é quando a dedicação a um partido político ou a um político passa a gerar prejuízo no indivíduo. “Vejo pessoas que criam conflitos, insultam, deixam de tratar o outro bem, brigam com a família e com os amigos por defenderem um partido ou político de maneira obsessiva, cega. Isso tem um prejuízo social e psicológico muito grande e pode desencadear desordens como depressão e ansiedade. A pessoa prejudica o relacionamento com os outros e tem maior probabilidade de ter ciúmes patológicos, por exemplo”, alerta André Barbosa.
Como identificar se alguém está sofrendo de paixão política? O especialista explica: “Você consegue ver o que o seu político apoia de verdade? As falhas dele? As mentiras? Enxerga as boas propostas de outros candidatos e é capaz de ter uma crítica racional? Se você conseguir, não está dentro dessa parcela de fanáticos”.
De acordo com André Barbosa, a obsessão impede a conexão do córtex pré-frontal do nosso cérebro, parte responsável pelo nosso senso crítico e analítico. “Quando a gente está numa paixão política, estimula mais o lado das emoções. Dessa forma, quanto mais apaixonada a pessoa é, menos raciocínio crítico ela tem sobre determinado candidato ou assunto. Isso é ruim, porque, nesse estágio, ela está acreditando em absolutamente tudo que esse candidato diz”, conta.
Para André Barbosa, a transferência de boa parte desse discurso político para as redes sociais, nos últimos anos, só piorou a situação.
“Nas redes sociais, o fanático vai ter uma tendência de defender o seu candidato, subir o nível de tensão e ficar na defensiva. Ele fica ainda mais fanático nesse meio. Cada vez mais, impulsionado por outros fanáticos, acredita que o seu candidato é perfeito”, explica o especialista.
Questionado se existe um tratamento para controlar a paixão política, o psicólogo aponta o primeiro passo: “É preciso, primeiramente, reconhecer o problema e tentar se controlar. Entender que todos os candidatos têm defeitos e qualidades e que o outro tem o direito de ter a própria opinião”, disse André Barbosa.